quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Claridades na Areia

Vamos brincar de apagar a luz e plantar claridades na areia, como se a praia fosse o longo mistério prometido. Vamos brincar de algas e de espumas, de maré e de veleiros onde cada mastro é um porto de refúgio. Vamos entrar no faz de conta dos que exploraram tudo, em volta, aquém e além do céu, e resumiram-se na primeira simplicidade do despertar de novo.
         Vamos pretender que, além de todos os desenganos, renasça o intacto mundo das libertações esboçadas em todos os caminhos e prontas a florirem sempre à custa do trabalho e da pesquisa. Vamos talvez confiar nas palavras emprestadas que podem discorrer mais rápidas e justas do que as mais ajustadas peças de combate e defesa que ousamos possuir.
         E por que não começar logo a experiência se o simples fato de “começar” desata o cordão da longa e fantástica hora que nos iguala, em mobilidade, aos pássaros e às idéias em evolução?
         Vamos deixar que, através de nós, fluam todas as forças que, de cadeia em cadeia, comandam o universo estabelecendo a harmonia. Vamos, por um momento, servir ao elo das energias que tantas vezes perdemos em nosso intimo por falta de sequência. Vamos brincar de acender luzes e plantar flores na amplidão com tal coragem que elas possam brotar por força de nosso comando. Vamos brincar de sol e de claridades dificílimas, pois é plena primavera.

domingo, 22 de setembro de 2013

Surpresa



Por vezes parece-me estar ressurgindo da neblina de um passado que já nem sei se realmente é totalmente meu, tão diferente se põe agora junto ao meu caminho. Nossa última descoberta é um mundo de surpresas. Tenho, por momentos a impressão de que nunca existimos isoladamente, sem qualquer elo, por mais tênue que seja, sem qualquer compreensão por mais sutil que nos pareça.
         Isso pode ser nova vida, até ser o começo da partida, mas sem dúvida, é uma união que não teme o tempo ou o espaço, sem definição, sem possibilidade de perda irreparável, ainda que nos ponha, por vezes, medrosos do real encantamento.
         Nada parece-nos bastante palpável ou positivamente estável, mas tudo é definitivamente possível nesse ressurgir de coincidências, de paralelos, de passos em uníssono. Tudo nos é agora comum como se fôramos, há muito, preparando esta estrada, quase nossa, que ainda não está pronta mas, já nos deslumbra.
         Tudo além deve ser Luz e, poderei provar-lhe um dia se, novamente nos descobrirmos, exatamente no mesmo momento, como acontece agora.

sábado, 14 de setembro de 2013

Roteiro




Não é possível que marchemos assim quase em uníssono com passos gêmeos numa estrada que não sabemos se é nossa ou até onde nos levará. Não há marcos de certezas nem setas de roteiros definidos, nada nos fala de direitos herdados ou conquistados. E todas as pesquisas são sempre experimentais, como se devêssemos arriscar tudo pagando o alto preço dos sonhos que nos assaltam.
Se na próxima hora nosso relógio marcar horas concretas talvez despertemos sem susto para uma realidade cômoda, mas por enquanto há nuvens sob nossos pés e nada nos pode parecer impossível.
Quando o silêncio marcar a palavra para a quebra definitiva de nosso transe tácito, saberemos se a quietude foi de proteção ou feita apenas para machucar.
E a beleza se afigura a cada hora como uma promessa mais certa, mais capaz de forma, gesto e realização. De nosso trabalho, e até de nosso ócio pode partir a primeira idéia que nos libertará como se fôramos predestinados à espera do sinal, da redenção tão próxima que assusta não só nossos sentidos, mas a própria integridade de nosso Ser.
Cada medo é a porta de uma claridade tão intensa que se vai abrir como corola lenta aos nossos olhos deslumbrados. De nosso assombro e nossa temeridade dependerá o passo mais avançado.
E tudo que ficou para trás perderá sentido como se nascêramos daquela experiência extraordinária.

domingo, 1 de setembro de 2013

Volta ao passado



Um místico som de cítara, comandando o ritmo interno, talvez o manso ondular do vento, sobre velha palmeira, fez aflorar no interior reminiscências de um longo viver.

         No relembrar saudoso, surgiram guirlandas de flores e guisos do templo; as longas vestes de caminhantes, cujos pés conheceram vales e montanhas, lagos e grutas consagradas, no seu buscar incessante.

         No sombrear da noite, figuras chegaram e se juntaram ao rio sagrado, como antenas eretas a pesquisar o céu. Por vezes, ecoaram sons de místicas palavras...

         Tudo parecia acordar velhas e perdidas memórias de um tempo raro. E, no leve acordar, impunha-se a necessidade, muito urgente, de refazer histórias para dar continuidade ao longo caminhar, de eras bem remotas. Crescia o dever de entrelaçar etapas, num fluir e refluir da consciência que desperta e se apaga, sucessivamente, até que a luz se imponha definitiva.

         O Portal do passado já não sabe como reter seus mistérios, como esconder o germe da primeira claridade latente. – Que desça a paz sobre os tropeços do caminho, que chegue logo o acordar definitivo, para surpreender as fantasias e simbolismos que compuseram o degrau primário. Que a palavra encontre sua correta função. Que possa gotejar sobre tudo e sobre todos, o crescente irradiar da verdade e da luz que se esforça, agora, para ampliar-se sobre o mundo.

         As Verdades, grandes como a própria vida, são simples, como a mente do mais simples dos homens. Por isso, às vezes se indaga: - De que reminiscência vem este reconhecimento místico? – De onde crescem as belezas, vindas da Luz e do mais profundo e pessoal sentir?

         São planos que se ligam para se comunicarem; é o humano desmaterializando-se. É como um revoar de asas brancas sobre resplandecente lótus, um cristalizar de pérolas sobre profundas águas. É Tua revelação que deslumbra os ofuscados olhos quando, de outras esferas, comandas o renascer do Espírito.

         - De que energia cósmica se reveste o Ser, à simples reminiscência dessa elevadíssima vibração evocada?

         É como um reconhecer antigo, um querer secular; como atingir cristalinos e inviolados lagos. É um aprofundar-se em regiões de luz, onde o Sol dissolveu seu constante iluminar. Carinhoso reencontro de almas na purificação do fogo vivo, aquietamento no silêncio espesso que vem depois da procela, não antes, não antes!

         - O magnífico despertar de onde parte? Esse clarim de festa insuspeitada, criação do som, da forma ou da cor? Já não há como fugir do enleio, como não dissolver-se no Infinito.
         Todas as palavras são curtas, incompletas e mudas para o material desdobramento. É a voz audível do Mestre, o velho reencontro, o pressentir da graça que retorna.